História da Arte

Afrofuturismo: conheça mais sobre esse movimento artístico

Afrofuturismo: conheça mais sobre esse movimento artístico

Cultura africana, questões sociais e ficção científica: é assim que surge o afrofuturismo, movimento artístico que busca contar a história do povo negro e questionar as temáticas tradicionais ocidentais.

Se você ainda não conhece esse gênero cultural, vem com a gente. Vamos descobrir como ele surgiu, quais são suas principais características e qual a sua relevância para o século XXI!

O que é o afrofuturismo?

Afrofuturismo: um termo relativamente novo, mas que já vem dando as caras há algum tempo na literatura, no cinema e nas artes plásticas. Para além de um movimento artístico, o afrofuturismo pode ser considerado também uma corrente cultural e histórica.

O objetivo do afrofuturismo é questionar e repensar o modo como interpretamos (e narramos!) os eventos históricos do passado, sobretudo aqueles que colocaram e colocam o povo preto em desvantagem. E isso é feito através de uma mistura super interessante entre surrealismo, ficção científica e cultura africana.

Esses elementos são trabalhados de maneira conjunta em diferentes áreas das artes visuais, como cinema, literatura e fotografia, além de ganharem a vez nas instalações multimídias e performances pelas galerias mundo afora. 

As peças de arte afrofuturistas buscam, assim, fazer pensar. Como podemos reescrever o passado negro em termos de libertação racial e qual é o futuro que queremos e buscamos para as pessoas negras? A ficção científica aliada à cultura africana e à arte podem nos ajudar a refletir!

A origem e a evolução do afrofuturismo

O termo “afrofuturismo” foi cunhado em 1993 por Mark Dery, crítico cultural norte-americano, no ensaio intitulado Black to the Future. Neste texto, ele relacionava características da música afro-americana com particularidades da ficção científica. 

Mas décadas antes disso, lá em 1950, produções afrofuturistas já pipocavam no mundo da arte. 

O romance Invisible Man (em português, O Homem Invisível), de Ralph Ellison, foi publicado em 1952 e conta a história de um afro-americano que, por causa da sua cor, tornava-se invisível. Bem descritivo, não é mesmo? Um marco na arte afrofuturista, fomentou debates desde sua publicação e tornou-se uma inspiração.

Sun Ra, músico norte-americano de jazz, também é amplamente conhecido como um dos precursores desse movimento na década de 50. Com canções quase cósmicas, ele abordava conceitos afrocêntricos e, de modo ímpar, mesclava mundos sobrenaturais e cultura africana. 

De lá para cá, o movimento só vem se popularizando. Debates acadêmicos, maior acesso à internet e às redes sociais e, claro, a facilidade de consumir arte propagada pelos streamings de filmes e músicas são fatores relevantes para que o afrofuturismo tenha a sua relevância conhecida.

Principais ícones e obras do afrofuturismo

Já citamos a importância do jazzista Sun Ra e do romance Invisible Man para o afrofuturismo. Mas as personalidades e as obras de relevância associadas ao movimento vão muito além desses dois exemplos. Entre os cineastas que merecem destaque por explorar a temática da identidade negra através da tecnologia e da história, temos John Akomfrah. 

Nascido em Gana na década de 50, mas naturalizado britânico, Akomfrah se utiliza de narrativas ficcionais complexas, visuais impactantes e elementos históricos para questionar o passado ao mesmo tempo que propõe futuros alternativos baseados nas diásporas africanas.

Quem também vai por um caminho parecido é a artista africana Wangechi Mutu. Combinando pintura, colagem, escultura, vídeos e instalações, a artista aborda questões de raça e gênero através da montagem de figuras híbridas: são humano-máquinas que interseccionam a identidade da diáspora africana.

Quer outros nomes, talvez mais conhecidos? Grace Jones, com sua estética andrógina e seus looks futuristas, abalou as estruturas da indústria do entretenimento. Basquiat, com suas pinturas irreverentes e cheias de referências que unem passado e futuro, exibiu com louvor a herança cultural do graffiti e das ruas.

Sem título (Caveira) (1981) - Jean-Michel Basquiat
Sem título (Caveira) (1981) – Jean-Michel Basquiat

Afrofuturismo na cultura pop moderna

Mas e hoje em dia, como o afrofuturismo se estrutura nas cultura pop e nas artes em geral? Será que a sua vertente contestadora – que busca valorizar a cultura africana e interrogar a história construída a partir de fatos estritamente eurocêntricos – continua atingindo o público como atingia algumas décadas atrás?

Não é preciso ir muito longe para responder essa pergunta de forma afirmativa! 

Na música, podemos destacar artistas jovens – sobretudo mulheres – que trazem as cores, o psicodelismo, o uso da tecnologia e a mistura de culturas negras como ponto de partida para a sua arte. Erykah Badu, Janelle Monáe, Lauryn Hill, Beyoncé e Elza Soares são alguns dos exemplos mais claros.

No cinema, o filme Pantera Negra (2018) impera entre os mais cultuados da última década ao mesclar ciência, fantasia e questões raciais e sociais. O universo de Wakanda, entretanto, já existia nos quadrinhos.

A contribuição do escritor de ficção científica Christopher Priest nas tiras do Quarteto Fantástico no final da década de 90 inseriu os elementos afrofuturistas que faltavam para o personagem do Pantera Negra se tornar um exemplo de sucesso para o gênero.

Afrofuturismo e educação: impacto nas novas gerações

Se até pouco tempo atrás a pauta antirracista penava para chegar de maneira mais direta e informal em todas as camadas da nossa sociedade, atualmente isso vem mudando com velocidade. E o movimento afrofuturista – que cada vez mais penetra em diferentes áreas artísticas – têm um papel fundamental nessa virada de chave.

Ao misturar tecnologia, fantasia, história e ciência para dar voz ao povo negro, o afrofuturismo busca diminuir as distâncias sociais que separam aqueles que possuem a cor da sua pele como marca de opressão. Pensar ficcionalmente em um outro futuro possível é, de certa maneira, reconstruir a realidade.

Para as gerações atuais, o afrofuturismo é visto como uma inspiração. Seu apelo também é educacional: aprendemos sobre as diásporas, discutimos questões raciais, reconhecemos a presença negra, repensamos o passado e projetamos um futuro – mais diverso, menos segregador.

Arte enquanto ferramenta de reconstrução

Como acontece com muitos dos movimentos sociais, o afrofuturismo busca discutir e fomentar mudanças estruturais concretas – e necessárias. Ao incorporar a cultura negra em cenários futuristas em prol da arte, o que o afrofuturismo quer (e consegue) é uma maior visibilidade social para a causa racial.

Produzir cultura, fomentar o mundo artístico e ainda repensar o sistema racista fazem do afrofuturismo um ótimo exemplo da potência que é a arte. E aí, gostou de conhecer mais sobre esse movimento estético, cultural e artístico surgido na década de 50? 

Para continuar no embalo de inspiração que só a arte é capaz de produzir, não deixe de visitar o site da Artools e conhecer os nossos materiais artísticos. Vamos juntos transformar o mundo e criar sem barreiras!

Clique no banner para ver onde encontrar a Artools perto de você.

Empresa de material de arte Artools

Categorias: História da Arte