Uma técnica de pintura que mistura tradição, tinta nanquim e valorização do monocromático, o Sumiê é um estilo de pintura que encanta e atrai novos artistas há mais de 10 séculos. Com origem na China, espalhou-se principalmente no Japão e, hoje em dia, faz sucesso também para os lados de cá!
Para conhecer mais sobre essa técnica pictórica do sudeste asiático, acompanhe o nosso texto. Vamos conhecer a sua história, as suas principais características e a sua influência na arte contemporânea.
A história da pintura Sumiê
Apesar do que muitas pessoas pensam, a Sumiê não nasceu no Japão! Essa técnica se originou na China, durante a Dinastia Sung (960 – 1274) e só foi introduzida nas terras japonesas durante o século XIV pelos monges budistas. Seu nome é de raiz japonesa e significa literalmente “pintura com tinta”.
Para compreendermos melhor a Sumiê, é preciso olhar para a filosofia por trás do seu surgimento: o budismo. Conhecido por ser uma doutrina de desapego, autodisciplina e respeito com a natureza e seus seres, o budismo passa essas características para a arte da pintura com tinta.
Na Sumiê não há apego aos detalhes, mas sim um foco em representar o que é essencial para a pintura. Se na filosofia budista não se faz distinção entre aquilo que é animado e aquilo que é inanimado, na Sumiê isso se revela através do apego à técnica e da importância de representar a alma do artista de modo simples e direto.
Os quatro nobres e a Sumiê
Já falamos da filosofia por trás da Sumiê, mas há outro detalhe que precisa ser enfatizado: o estudo dos quatro nobres – ou quatro cavaleiros. Todo estudante dessa técnica inicia seu aprendizado dos traços principais através de um olhar mais apurado para quatro diferentes plantas (os famosos quatro nobres).
São elas a orquídea selvagem, a ameixeira, o bambu e o crisântemo. Essas plantas indicam alguns dos temas mais recorrentes na Sumiê, uma arte ligada profundamente à natureza e seu processo orgânico e sutil.
A orquídea selvagem representa o verão e simboliza o espírito jovial, com sua graça, sua beleza e sua suavidade. O bambu, por sua vez, representa o inverno – humilde e simples, sempre estável e forte. A ameixeira é a primavera, que vem para renovar a esperança e antecipar as boas novas. As flores do crisântemo, por fim, representam a perseverança do outono.
Principais características da arte Sumiê
Ao olharmos para essa arte milenar, uma coisa fica evidente: a Sumiê exige sutileza e muita, muita técnica. Tanto no Japão quanto na China – locais onde essa arte é predominante – a pintura tradicional é como uma extensão da caligrafia. É por isso que as pinceladas desse estilo são suaves e pouco figurativas.
A ideia é revelar a alma do artista através de linhas, manchas e pontos que se fundem e se libertam do controle excessivo. A simplicidade do traço, portanto, é uma das principais características da pintura Sumiê. Junto dessa simplicidade, a espontaneidade e sutileza andam de mãos dadas!
Pintada à mão livre com o pincel na vertical, ela se distingue da pintura ocidental também porque não utiliza uma diversa gama de cores. Na verdade, a Sumiê é cromática: basta o nanquim (um pigmento preto) e um papel artesanal de arroz (numa tonalidade branca) para que o efeito desejado seja conquistado.
Quais os materiais usados na pintura Sumiê
Seguindo a filosofia da simplicidade budista, os materiais utilizados para o desenvolvimento da técnica também são simples e poucos. Ao invés de muitas tintas em diferentes tonalidades e vários pincéis de diferentes formatos, na Sumiê o foco está em ter os produtos certos.
Um pincel japonês ou chinês de pelo fino, nanquim em barra, uma peça (geralmente de porcelana) para dissolver o nanquim e outra para descansar o pincel, uma pedra sabão para fazer a raspagem do nanquim e papel de arroz são os materiais indispensáveis para uma boa prática da Sumiê.
A evolução da Sumiê
A Sumiê tradicional (também conhecida como Suiboku-ga ou Shuimohua) é feita com um nanquim em barra esfregado contra uma pedra plana. Ao mesmo tempo, enquanto esse pigmento vai sendo extraído, adiciona-se água. Eis, aqui, a tinta com a qual será feita a pintura monocromática.
Na pintura tradicional, os erros costumam ser incorporados ao desenho. Em muitos casos, inclusive, eles se transformam em detalhes importantes da obra. Devido à tinta super pigmentada, é impossível retroceder. Caso seja preciso corrigir o erro, só há uma saída: começar do zero!
Ao chegar no Japão, a Sumiê adotou algumas particularidades do lugar, como o uso do pincel de cerdas finas com cabo de cana de bambu – que facilita os traços fluidos – e o papel de arroz. Além disso, com o passar dos anos algumas outras cores passaram a ser permitidas e incorporadas aos detalhes das pinturas.
A arte Sumiê na atualidade
Por ser uma arte antiga e cheia de significados, a Sumiê atravessou o tempo e acabou se adaptando aos diferentes contextos e culturas. Muito do que vemos da técnica hoje em dia já difere bastante do modo de pintar original, apesar de carregar seu valor simbólico.
Originalmente monocromática, ao ser incorporada pelo ocidente a Sumiê passou a aceitar o uso de diversas cores. O resultado é um trabalho que lembra bastante a aquarela, outra técnica que também utiliza a água para dissolver os pigmentos das tintas.
Na arte contemporânea, o minimalismo e o estilo mais clean certamente são referências que advém da simplicidade da pintura Sumiê. Traços precisos, mas fluidos, uma prevalência de formas orgânicas, a funcionalidade aliada à beleza. Características que as artes chinesa e japonesa apreciam e, através das suas próprias culturas, difundem e influenciam.
Tradição e inovação: parceiras de uma criação mais livre
Carregada de simbolismos e com uma técnica para lá de refinada, a Sumiê é uma arte milenar que encanta todos que se deixam seduzir pela simplicidade e pela elegância.
Vamos seguir o exemplo da pintura oriental e exercitar a imaginação ao mesmo tempo em que praticamos a sutileza?
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