Escultor, gravurista, ceramista, desenhista, muralista e pintor: Carybé fez da versatilidade e da mistura de culturas um potencializador para a sua arte, cheia de referências ora portenhas, ora brasileiras.
Fascinado pela Bahia, fez do estado a sua morada e, dali, tirou a força para dar rosto à sua arte figurativa.
Vamos conhecer Carybé? Venha com a gente para saber mais da vida, da obra e das principais características da arte deste artista para lá de brasileiro.
Quem foi Carybé?
Nascido Hector Julio Páride Bernabó, Carybé, na verdade, nasceu na Argentina em 1911 e com apenas 6 meses de vida mudou-se com sua família para a Itália. Lá, viveram até 1919, quando decidiram vir ao Brasil. A partir daí, a trajetória desse artista torna-se intrinsecamente multicultural.
Morando no Rio de Janeiro, Carybé completa seus estudos secundários na cidade maravilhosa, onde ingressa na Escola Nacional de Belas Artes em 1928. É também no Rio onde acaba sendo apelidado pelo que, mais tarde, torna-se seu nome artístico: carybé, um pequeno peixe amazônico.
Trabalhando desde cedo, é ajudante no ateliê de cerâmica de seu irmão Arnaldo. Em 1929, o trio de irmãos é contratado para fazer a decoração de carnaval dos hotéis Glória e Copacabana Palace. A recompensa vem em muitos contos de réis, dinheiro que possibilita a volta da família à Argentina.
Assim, com 18 anos, Carybé conhece finalmente o país onde nasceu. A chegada à Argentina, entretanto, vem com a crise econômica mundial. Para conseguir algum dinheiro, os três irmãos ingressam no jornalismo e são contratados por jornais para a elaboração de ilustrações e charges. Nesse meio tempo, Carybé continua desenhando e pintando para si.
No ano de 1938, ele consegue um emprego com o qual sempre sonhou: é contratado pelo jornal El Pregón para viajar pelo mundo enviando reportagens e desenhos dos lugares visitados. É assim que conhece Santos, Montevidéu, as cidades históricas de Minas, Vitória e também Salvador. É aqui que começa seu amor pela Bahia.
Ainda em Salvador, uma notícia pega o artista de surpresa: seu jornal argentino falira. Sem trabalho fixo, passa seis meses em Salvador e volta para a Argentina carregando desenhos e aquarelas para sua primeira exposição individual. Para ele, “tempos de miserê” mas também de boa sorte.
Seus próximos anos são bastante agitados: até próximo da década de 40, o artista viveu entre vários países e, de tempos em tempos, retornava ao Brasil. Trabalhou, inclusive, ilustrando obras literárias do país e foi responsável pela tradução do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, para o espanhol.
Em 1944, visita novamente Salvador. É aí que se inicia no candomblé e aprende capoeira. Em 1946, se casa com Nancy Colina Bailey, na Argentina, com quem tem dois filhos. Em 1950 a família vem, de forma definitiva, para o Brasil. Vão morar na capital baiana, onde Carybé é contratado para fazer murais em obras públicas por indicação de Rubem Braga.
Pelos próximos 50 anos, Carybé vive em Salvador. É lá que se naturaliza brasileiro, em 1957. Até o final da sua vida, é um artista ativo: viaja o mundo pintando murais, publica livros de autoria própria com xilogravuras, desenhos e pesquisas – inclusive sobre a cultura africana na Bahia –, e participa de exposições individuais e coletivas.
Carybé morre em Salvador, em 1 de outubro de 1997, com 86 anos.
A relação entre Carybé e a Bahia
É quase impossível pensar em Carybé e na sua obra sem considerar a sua relação – de admiração, respeito e amor – pelo estado baiano. Para o artista, Salvador era a representação da livre expressão e da riqueza de culturas.
A religiosidade, os costumes locais e o cotidiano da cidade e do estado acompanham Carybé em várias de suas obras, durante toda a sua longa carreira artística. Pescadores, capoeiristas e lavadeiras figuram entre seus personagens mais frequentes.
É por causa de seus trabalhos voltados à cultura afro-brasileira – sobretudo no início da década de 70 – que Carybé é condecorado com o título de honra do Candomblé, o obá de Xangô.
Os 27 painéis contendo os orixás baianos, entre outras obras, podem ser conferidas no Museu Afro-Brasileiro em Salvador.
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As características da arte de Carybé
Filho do seu tempo, Carybé foi um modernista. Apesar de não acreditar na arte como um caminho para a crítica social, seus trabalhos são marcados pelos retratos do povo – argentino, carioca, mas sobretudo baiano. Influenciado por Gauguin, Modigliani e Van Gogh, gostava de retratar o que via.
Sua obra tem como características principais o movimento, a pintura cromática e os desenhos vibrantes. Para quem vislumbra seus trabalhos, é difícil não capturar sua linguagem plástica e figurativa, recheada de cores e personagens culturais.
Dos seus murais às suas xilogravuras, o que se destaca é a representação afetiva da cultura, dos costumes e dos afazeres cotidianos. Para além da pintura, dos murais e dos desenhos, foi um exímio escultor.
Algumas obras de Carybé
Rio São Francisco (1939)
Uma típica pintura em óleo sobre tela, Rio São Francisco retrata o cotidiano e os afazeres próximo ao São Francisco. São homens e mulheres que, em seus trajes simples e despojados, separam e vendem alimentos, empunham instrumentos musicais e socializam entre si.
Capoeira
Não são poucas as referências de Carybé à capoeira. O artista foi apaixonado por essa representação cultural que envolve dança, esporte, luta, brincadeira, jogo e música.
Na pintura, vemos o movimento dos corpos em uma arte bastante figurativa, onde não há feições ou delimitação dos personagens. O foco está em transmitir o sentimento desta arte de origem afro-brasileira.
Multicultural, multiartista: criar é experimentar o diferente
Hector Bernabó fez da sua vida de artista, uma vida multicultural: foi através da mistura de culturas – argentina, brasileira, mas também de outros países latinos e europeus que visitou – que a sua arte tornou-se, acima de tudo, tão diversa.
Carybé experimentou técnicas, superfícies e materiais e fez dessa experimentação uma maneira de se expressar através de diferentes artes. Foi, sem sombra de dúvidas, um exemplo de multiartista completo. Vamos fazer dele uma inspiração?
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Categorias: História da Arte